Ficha - Shinsen Ryusei

Japão - 1852 (Período Edo)

O país estava a 16 anos do que seria a revolução da Era Meiji. O Xogunato dominava o Japão a pouco mais de 200 anos, o desenvolvimento em relação ao crescimento da população deixava de ser satisfatório, o país passava por crises econômicas e por constantes invitações externas a se sociabilizar com as demais nações. Chegava o momento em que a única opção do Japão era se abrir aos outros países, logo o atrito entre os clãs monarquistas e anarquistas formava-se e as disputas políticas, diplomáticas e governamentais estavam se desencadeando cada vez mais. A guerra civil estava quase eclodindo, disposta a varrer tudo que pudesse até que a paz fosse alcançada.
Um casal de simples civis decide mudar-se para o interior dos campos e deixar a conturbada e perigosa vida na capital, dado o nascimento do segundo filho do casal. Suas duas crianças, Matsui e Kensei, mereciam todo o amor, cuidado e proteção possíveis, e a melhor forma de fazer isso seria afastando eles do contato direto à guerra. As crianças foram criadas trabalhando em sustento próprio junto aos pais, cultivando seu próprio alimento, caçando e aprendendo as normas básicas da sobrevivência.
Desde jovens eles sempre ouviam as histórias de seu pai sobre o país e seu destino. Os dois rapazes tinham ideais opostos em relação ao Japão, Matsui acreditava que o país só conseguiria se recuperar de suas atuais crises através de uma revolução política, estabelecendo contato com outras civilizações e abrindo-se ao mercado mundial, Kensei optava pela ideia de que a cultura japonesa devia prevalecer sobre qualquer circunstância, apenas uma solução que não fosse contra os ensinamentos de seu país seria apropriada, mudar o Japão não ajudaria a melhorá-lo, ao seu ver.
Os dois jovens não possuíam fortes atritos um com o outro, mas estavam sempre em embates “armados” com o que lhes aparecia à frente, de vassouras a foices de lavoura. Nunca terminaram adequadamente uma batalha, sendo interrompidos por seus pais ou caindo cada qual para o seu lado sem condição de continuar, todo duelo era apenas um empate prolongado. Em um senso de maturidade mútua, os dois garotos decidiram deixar suas batalhas para quando tivessem habilidade suficiente para vencer um ao outro.
Um dia, ao sair para trabalhar na lavoura, os irmãos encontram-na em chamas, o incêndio parecia ter se espalhado pouco tempo antes, mas já tinha alcançado até mesmo o estoque do celeiro. Em desespero, os dois garotos correm para sua pequena casa, voltando o caminho já andado até ali. Sangue escorria por baixo da porta entreaberta, com sinais de arrombamento. Os dois correm assustados e olham pela porta, sua mãe estava estirada no chão, morta, seu pai fincado na parede por uma katana segurada por um homem. Ele ouve os garotos e vira-se, Matsui em um ataque furioso parte em sua direção, mas é desmaiado com um simples chute que o joga contra a a parede. Kensei foge, incapaz de reagir da mesma forma que seu irmão, seu instinto de sobrevivência foi maior, o garoto fugiu o quão longe suas pernas puderam levá-lo, até que caísse estonteado pelo cansaço, pelo medo e pelo sofrimento.
Kensei aos 10 anos viajou a Kyoto, logo após aprender a sobreviver por si só, lá buscou se unir devidamente à sua causa, com tal idade ele é ingressado ao Shinsengumi, uma unidade policial que serviu ao xogunato no período final do bakufu. A tropa estava sob o comando direto do comissariado militar de Kyoto (feudo de Aizu) do Xogunato. Seus principais membros eram espadachins da região de Tama, em Edo, e a sua missão era proteger a cidade de Kyoto, que havia se transformado em um inferno de sangue e mortes por causa dos monarquistas que na época ainda agiam cada um por si. Vestindo uniformes azuis-claros com detalhes de branco e agindo sob a bandeira escarlate com o ideograma para a fidelidade, eles eram chamados de Miburo, os Lobos de Mibu que fizeram Kyoto tremer de terror com as suas espadas letais e um espírito que sobrepujava o medo da morte.
O garoto foi treinado e desde cedo suas execuções fizeram-se necessárias, tornando-se uma das espadas mortais do Shinsengumi durante anos. Aos seus 17 anos, veio a grande Guerra do Ano do Dragão. A Guerra Boshin foi uma guerra civil no Japão, travada de 1868 a 1869 entre forças do governo do xogunato Tokugawa e aqueles que favoreciam a restauração do Império Meiji. A guerra encontra suas origens na declaração do imperador da abolição do xogunato de mais de 200 anos e a imposição do comando direto da corte imperial. Movimentos militares das forças imperiais e atos de violência partidários ao império em Edo, levou Tokugawa Yoshinobu, o xogun, a lançar uma campanha militar para controlar a corte imperial em Kyoto. A maré militar rapidamente mudou em favor da facção imperial, que era pequena mas relativamente modernizada, e após uma série de batalhas culminando na rendição de Edo, Yoshinobu pessoalmente rendeu-se. O remanescente do governo Tokugawa recuou para o norte de Honshu e posteriormente para Hokkaido, onde declarou uma nova republica. Derrotados na Batalha de Hakodate destruiu o ultimo resquício do xogunato dando controle supremo ao império em todo o Japão, completando a fase militar da Restauração Meiji.
Batalhando pelo shinsengumi, que foi vencido brutalmente pela destruição das inovadoras armas de fogo modernas adquiridas pelos revolucuionários graças ao auxílio exterior, apenas espadas não eram o suficiente para vencer atitude tão covarde da parte dos oponentes. Seguindo a Guerra Boshin o bakufu foi abolido, e Keiki foi reduzido ao nível de um domínio. Movimentos de resistência do Xogunato continuaram no norte seguindo o ano de 1868, e as forças navais do bakufu, sob o comando do Almirante Enomoto, resistiram por mais de 6 meses Hokkaido, onde eles fundaram a República Enzo, que teve um curto período de existência. Os poderes políticos e militares foram restituídos ao Imperador, terminando assim com mais de 200 anos de domínio dos Tokugawa sobre o Japão.
Fora da batalha, com a morte do sub-comandante Hijikata (o demônio do shinsengumi), a organização se desfez e Kensei perdeu seu rumo. Foi então que, em sua desolação completa ao perder a sua segunda grande família, encontrou-se mais uma vez com seu irmão Matsui; havia tornado-se um assassino a serviço dos monarquistas, e foi contratado para limpar os vestígios da resistência anarquista, os seguidores de Xogunato Tokwaga. Ele era um herói, afinal, o seu “lado” havia vencido a grande disputa pelo futuro do Japão, mas sua alma nunca seria tão pura quanto a de Kensei, que honrou seus objetivos do começo ao fim, enquanto seu irmão concordou em ser treinado por aquele que assasinou seus pais, por interesse político contra o pai dos garotos, dada a posição anarquista estabelecida naquela família em geral, ele era um fugitivo que conspirava contra a revolução.
A última batalha foi realizada entre Matsui e Kensei, a mais intensa, demorada, sangrenta, dolorosa e ao mesmo tempo a mais significativa da vida dos dois, vida esta perdida por ambos num golpe final de mesmo finalidade, atravessar o coração um do outro com suas espadas. Com a morte, voltaram a se encontrar. Kensei vagou acorrentado aos sentimentos que tinha por sua pátria e sua organização, Matsui ficou preso ao mundo pela penalidade de seu destino como matador, ele desejava mais sangue em suas mãos e sua espada, seu caminho não podia terminar ali. Como espíritos, Kensei morto aos 17 e Matsui aos 19, batalharam sozinhos pela eternidade, sem se cansar ou parar por motivo que seja, eram incapazes de acertar um ao outro.
Algo sobrenatural porém, interrompe sua batalha eterna, os dois irmãos vêm-se diante de uma criatura jamais realçada pelo folclore e mitologia de seu país. Um monstro mascarado de corpo escuro e deformado, uma entidade horrenda, em resumo. Dada sua aparição os irmãos deixam de lado seu duelo e partem ao ataque, por algum motivo suas espadas estavam junto aos seus espíritos, eles conseguiam usá-las em combate e manipulá-las, mas não eram eficazes o suficiente numa criatura daquele nível. De golpe em golpe eles eram devastados durante o embate, e presenciando a derrota dos oponentes, o monstro aproxima-se e ergue ambos por suas correntes, morde-as e começa a tentar separar seus corpos das correntes agora presas em sua boca, a dor era insuportável, lembrava uma queimadura, mas era penetrante como um corte, ainda misturada à sensação de ter toda sua escência prestes a ser arrancada de seu corpo.
Surje então alguém, um espadachim de kimono negro que em um golpe fatia o monstro em dois, em seu último esforço ele pucha com alguma brutalidade a mais as correntes e quebra-as, os dois irmãos entram em colapso total, um frenesi assassino incontrolável. O espadachim como sua ação mais rápida consegue resgatar a tempo a alma Plus de Kensei, ou o que se parecia com isso, enviando-o à Soul Society. Matsui desaparece numa distorção espacial, capturado e puchado por braços demoníacos.
Kensei se adaptou facilmente à Soul Society, foi capaz de reencontrar alguns dos membros do Shinsengumi, algo que lhe trazia um grandioso alívio. De imediato invitou sua inscrição à Gotei, com sua experiência na organização Shinsengumi, que também era separada em Divisões, das quais Kensei era pertencente à primeira, comandada por Souji Okita. Com fervor e determinação, Kensei estudou devotamente durante longos anos, objetivando dominar completamente sua reiatsu e desenvolver não mais seu “corpo”, mas sua alma (era um espírito agora, mas para ele, “alma” ainda significava “interior”). Com um rendimento venerável, tornou-se finalmente um shinigami, pertencente à primeira ordem, tal como quando era um humano servindo o que para ele era o bem do seu país.
O rapaz optou por alterar seu nome, agora como espírito. Seu sobrenome seria Shinsen, de Shinsengumi,, e seu nome, Ryusei, trocando a “espada”(Ken) de seu nome em tributo do signo anual nomeador da guerra que deu fim à sua vida e um novo início ao Japão, o dragão (Ryuu).